Rudolf Wilhelm Friedrich Ditzen nasceu em Greifswald, no nordeste da Alemanha, em 21 de junho de 1893. Teve uma infância difícil e uma juventude pouco sociável, talvez sequela de conflitos na relação com o pai, juiz num tribunal supremo do Reich em Leipzig. Aos 18 anos, se feriu gravemente e matou um colega em uma tentativa de duplo suicídio falseada como duelo. Em decorrência disto, teve sua primeira internação em um asilo psiquiátrico.
Em 1920, assumiu o pseudônimo Hans Fallada, derivado de referências de contos dos irmãos Grimm. Em 1929, casou-se com Anna Issel, com quem teve quatro filhos. Trabalhou como jornalista e com publicidade no mercado de turismo, até despontar no mundo literário com a novela Bauern, Bonzen und Bomben [Lavradores, caciques e bombas], no início da década de 1930.
O romance Kleiner Mann — was nun? [E agora, seu moço?], de 1932, narrando a condição miserável da Alemanha antes da ascensão de Hitler, teve rápido sucesso mundial (virou filme de Hollywood e teve edição brasileira) e tornou-o um dos mais populares escritores modernos alemães. O estilo de Fallada é identificado com a Neue Sachlichkeit (nova objetividade, ou realismo social).
Sua vida foi marcada pelo vício em álcool e morfina, internações constantes e uma relação complicada com a ditadura vigente. Internado em um manicômio nazista, Fallada aceitou o “convite” do ministro nazista Joseph Goebbels de escrever um romance antissemita (depois de negativas que o fizeram ser listado como indesejável do regime e posto sob atenta vigilância). Em vez de cumprir o acordo, usou a cota de papel para escrever Der Trinker [O bebum], relato autobiográfico e crítico sobre o 3º Reich. Separou-se de sua mulher em 1944, casando-se no ano seguinte com Ursula Losch, trinta anos mais jovem, com quem compartilhava surtos psicóticos e problemas com drogas.
Fallada nunca deixou a Alemanha, para o escândalo de alguns de seus contemporâneos. Essa vivência, no entanto, transformou-o em um narrador privilegiado dos crimes do regime nazista. Já com a saúde comprometida, escreveu Morrer sozinho em Berlim em menos de um mês. O autor morreu pouco depois, de complicações ligadas ao abuso de álcool e morfina, em fevereiro de 1947, semanas antes da publicação da obra.
Escrito e publicado pouco após a queda do Reich, em 1947, o romance MORRER SOZINHO EM BERLIM é uma das primeiras obras por um autor alemão a tratar da resistência aos nazistas, e considerada uma das mais importantes. Em 1945, Johannes Becher fez chegar às mãos de Hans Fallada, autor de renome internacional desde a década de 1930, arquivos da Gestapo sobre o julgamento do casal Otto e Elise Hampel. Após descobrirem que o irmão de Elise havia morrido na guerra, o casal iniciou sua própria campanha contra o regime nazista em Berlim, escrevendo e distribuindo secretamente cartões-postais em que pediam que o povo alemão se recusasse a cooperar com os nazistas.
A esperança de Johannes Becher, também escritor e presidente da organização cultural do setor soviético da Alemanha, era que Fallada conseguisse eternizar esta importante história de resistência em uma obra-prima da literatura antifascista. E deu certo — desde sua publicação original pela editora Aufbau, a história romanceada do casal Hampel esteve continuamente disponível na Alemanha, ganhando adaptações televisivas e cinematográficas e se tornando uma referência cultural para a geração do pós-guerra.
Hans Fallada escreveu MORRER SOZINHO EM BERLIM em menos de um mês. O autor morreu pouco depois, de complicações ligadas ao abuso de álcool e morfina, em fevereiro de 1947. A primeira publicação da obra em inglês veio só em 2009, pela americana Melville House, e transformou o livro em um “best-seller surpresa”. Edições europeias (só a edição inglesa vendeu mais de 400 mil exemplares; vendas em Israel e França passaram dos 100 mil) também atraíram grande público. Na obra Fallada recria a história do casal Hampel, agora batizados Otto e Anna Quangel.
Berlim, 1940.Quando seu único filho morre na guerra lutando pelo Führer, Otto e Anna Quangel decidem que não podem mais viver como se nada estivesse acontecendo. Se eles já não simpatizavam com os rumos da Alemanha, os privilégios dos membros do partido, o constante medo da vigilância de cidadão por cidadão, os abusos de autoridade e os boatos de horrores inimagináveis, eles agora decidem agir.
“MÃE! O FUHRER MATOU MEU FILHO! O FUHRER VAI MATAR OS SEUS FILHOS TAMBÉM, ELE NÃO VAI PARAR ANTES DE LEVAR O SOFRIMENTO A TODOS OS LARES DO MUNDO..." é a frase que Otto Quangel grava em um cartão-postal, que ele deixa em um prédio público da cidade.
Enquanto mais e mais dessas peças surgem — e quase invariavelmente caem nas mãos das autoridades nazistas — um frenético jogo de gato e rato tem início. A reputação e a vida do delegado Escherich, homem-forte da Gestapo, dependem de ele encontrar o quanto antes o traidor por trás da ultrajante campanha de difamação.
A partir da história real de dois operários berlinenses e sua inabalável coragem e resistência o autor compõe, em forma de thriller, um retrato objetivo e cru dos horrores da vida sob a ditadura nazista. Entre trabalhadores, marginais, pequenos tiranos, acusados e acusadores, cada um viverá e morrerá por si.
Um dos cartões-postais dos Hampels; no meio está um selo com o rosto de Hitler, rabiscado com as palavras"assassino de trabalhadores".
MORRER SOZINHO EM BERLIM, de Hans Fallada, foi indicado como uma das 5 melhores traduções de 2019, Claudia Abeling chegou a final do 61º Prêmio Jabuti por sua tradução. Entre as dificuldades do trabalho, além da extensão da obra (640 páginas), estão o uso do dialeto berlinense e a fluência quase frenética do autor, que reflete o ritmo intenso da trama.
Além de trazer a íntegra do texto de Hans Fallada, a edição traz anexos fac-símiles de documentos que inspiraram a obra e um posfácio detalhando os bastidores da edição original, concebida no calor do pós-guerra e publicada em 1947.
Saiba mais sobre a obra em Hans Fallada e a resistência das pessoas comuns
Do autor, a Estação Liberdade também lançará O
bebedor, um relato autobiográfico e crítico sobre o Terceiro Reich.
Do autor, a Estação Liberdade também lançará O bebedor, um relato autobiográfico e crítico sobre o Terceiro Reich.