Em romance de proporções épicas, autor pinta ascensão e queda de uma mulher em meio ao sangrento Japão feudal

O samurai, soldado de retidão moral e lealdade inquebrantável, talvez tenha sido a única constante no turbulento Japão do século XVI, palco de intrigas cruéis e consolidação do modelo militar feudal, que dariam ao país sua identidade política pelos trezentos anos seguintes.

Esse cenário épico marcado pela ambição do poder, que faz o Japão sucumbir a uma espécie de guerra civil permanente, já seria, por si só, fascinante em O Castelo de Yodo.

Mas o autor Yasushi Inoue vai além, ao escolher uma personagem mulher, Chacha, para conduzir a história. A perspectiva feminina para o conflito bélico dá um sabor tragicômico ao relato: em meio à violência inata dos embates, como as cabeças dos inimigos expostas em praça pública, Chacha, concubina do regente imperial, é incapaz de reprimir os ciúmes que sente das outras concubinas, e mais ainda da esposa oficial do regente. Essa passionalidade é ainda mais desconcertante diante do fato de que aquele homem que ela aprendeu a amar é o carrasco que dizimara boa parte de sua família.

Aspectos às vezes sombrios das tradições ancestrais japonesas também não passam impunes aos olhos ocidentais, como o hábito aparentemente irracional do seppuku, o ritual suicida muito comum entre samurais, praticado para legitimar um orgulho ferido. Escreve Inoue em dada passagem: “Pela primeira vez, decidiu morrer. Optar por sua própria morte era mais honroso do que pedir clemência a um bandido como Ieyasu. Tratava-se agora de proteger a honra dos Toyotomis, não de salvar a própria vida.”

Essa história monumental de conspirações entre xoguns, batalhas sangrentas e castelos imponentes consumiu seis anos de trabalho a Yasushi Inoue, cuja arte é semelhante à do pintor de telas de grandes dimensões, desenhando cenas com centenas ou milhares de figurantes sem perder a atenção ao detalhe, ao ângulo do luar, ao som da barra de um quimono que desliza lentamente pelo chão.

O ritmo deliberado da narrativa usa a modulação da música clássica japonesa e do teatro nô, obtendo grandes efeitos dramáticos em uma obra de um realismo severo. A psicologia das personagens, imaginada com rigor quase matemático, tem a força de camadas tectônicas que se movem vagarosamente, provocando grande destruição ao entrarem em atrito.





SOBRE O AUTOR 



Yasushi Inoue nasceu em 1907 em Asahikawa, no norte da ilha de Hokkaido, Japão. Foi poeta, contista, novelista e ensaísta. Depois de malograda sua tentativa de cursar medicina, ingressa na Universidade Imperial de Kyoto, formando-se em estética e filosofia. Antes de estrear na carreira literária, escreve poemas e treina judô obsessivamente. Era ainda uma promessa da fecunda literatura japonesa pós-Segunda Guerra Mundial quando publica seu primeiro romance aos 42 anos, O fuzil de caça (1949), lançada pela Editora Estação Liberdade em 2010. Recebe, em 1950, o prestigioso Prêmio Akutagawa de literatura, pela obra Togyu. Entre livros de contos e romances, publicou ainda Futo (1963), Waga haha no ki (1975) e Hongakubo ibun (1981). Faleceu em 1991, em Tóquio.


Livro
Tradutor Andrei Cunha
Formato 16x23cm
Páginas 312
ISBN 978-85-7448-212-5

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