O CORPO EM OFF 


“Durante uma consulta no ambulatório de um hospital geral, o estagiário que atendia um menino acompanhado de sua mãe teve de sair da sala por 15 minutos. Ao voltar, olhou para ela e perguntou-lhe quem a estava atendendo. “O senhor.” “Não, a senhora está enganada, não fui eu que a atendi.” “Mas, doutor, essa é a sua letra e foi o senhor que anotou os dados do meu filho aí nessa ficha.”

Este caso abre O corpo em off e, junto com outros relatos, dá uma amostra de como certas práticas médicas cientificistas (não) vêem os pacientes: como se fossem apenas órgãos, sem tentar entender a complexidade da experiência do adoecer. 

O Dr. Ulysses Fagundes Neto, professor titular do Depto de Pediatria e reitor da Unifesp, na orelha do livro, escreve que a autora enfatiza que os pacientes “não querem ser olhados apenas como órgãos doentes, mas, acima de tudo, como seres humanos que sofrem, e defende a procura de uma clínica cuja aposta seja a criação de novos dispositivos de intervenção”.

O corpo em off é uma caminhada para entender como esta visão do doente se instaurou, mas, especialmente, como romper com ela e atrair a atenção médica para o corpo do paciente em sua individualidade e integralidade, sem a antiga e ainda vigente divisão corpo/mente, incorporar o saber deste paciente e incluí-lo em seu próprio tratamento, quebrando as divisões criadas pelas especializações, pela rede saber-poder que permeia toda a medicina.

Na busca por uma clínica que crie novos modos de existência, Cristina Capobianco analisa sua vivência no dia-a-dia de um hospital geral. Este livro é resultado de suas experiências como psicóloga nas mais diversas situações ocorridas entre os profissionais de saúde e seus pacientes no ambiente hospitalar, onde, embora todos os médicos, com os mais diferentes tipos de personalidades, visem ao bem-estar dos pacientes, nem sempre são conseguidos os melhores resultados.

A autora revisitou a obra de Foucault, Sacks, Dolto, embasando-se nestes e outros autores para a reflexão sobre sua experiência de psicóloga em vários hospitais gerais, sobretudo nos serviços de pediatria, quando percebeu a incorporação dos modelos médicos cientificistas de intervenção pelo próprio profissional psi, incorporação esta que vai criando, no campo multidisciplinar da saúde, uma espécie de “novo órgão”, o psicológico, objeto de um outro especialista, o psicólogo/psicanalista.

Para a Dra. Regina Benevides de Barros, professora do Depto. de Psicologia da UFF, este “é um livro que convida o leitor ao percurso da constituição dos saberes, conclama questionamentos sobre os especialismos, apresenta polêmicas sobre os sentidos do corpo, força-nos a olhar com outras lentes a criança que sofre, convida-nos à invenção de dispositivos clínicos, embala-nos nas situações do cotidiano que misturam dor e alegria”.


          


CRISTINA SURANI MORA CAPOBIANCO

Cristina Surani Mora Capobianco nasceu em Montevidéu. Viveu em Buenos Aires até 1973, e desde 1974 mora em São Paulo. Especializou-se em psicanálise pelo Instituto Sedes Sapientiae. Mestra em psicologia pela PUC-SP, trabalhou em vários hospitais desde 1982 (Humberto I, Darcy Vargas e no setor de Gastroenterologia do Departamento de Pediatria do Hospital São Paulo). Atualmente, é coordenadora do setor de Saúde Mental do Núcleo de Assistência à Saúde do Funcionário da Unifesp e assessora da reitoria nos projetos de educação para filhos de funcionários.


Livro
Formato 14x21cm
Páginas 248
ISBN 978-85-744-024-4

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