Entrevista com Brigitte Koyama-Richard

Brigitte Koyama-Richard é professora na Universidade Musashi, em Tóquio, onde leciona História da Arte e Literatura Comparada. Ela publicou várias obras sobre o Japão, entre as quais Japon rêvé : Edmond de Goncourt et Hayashi Tadamasa (Hermann, 2001) e Kodomo-e: l’estampe japonaise et l’univers des enfants (Herman, 2004). Seus livros mais recentes são L’Animation japonaise : du rouleau peint aux Pokémon (Flammarion, 2009) e Shin Hanga : les estampes japonaise du XX èmesiècle (Nouvelles Éditions Scala, 2021).

No seu livro Mil anos de mangá, publicado no Brasil pela Estação Liberdade, Brigitte procura mostrar que, por mais contemporânea que essa forma de arte gráfica possa parecer, o mangá está, na verdade, profundamente enraizado na cultura japonesa, baseando-se muitas vezes em suas tradições artísticas centenárias.

Reproduzimos a seguir a íntegra de uma entrevista concedida por Brigitte Koyama-Richard à resenhista da Quatro cinco um Clara Rellstab, na qual a autora conta um pouco sobre a carreira e como foi seu primeiro contato com os mangás.


Qual é o primeiro mangá que você leu? Como que você entrou em contato com esse tipo de história em quadrinho?

Moro no Japão há muito tempo e conhecia alguns mangás, mas foi na verdade através de meus filhos e de meus estudantes, apaixonados por mangás e por animes, que me interessei de verdade, no começo dos anos 1990. Acho que um dos primeiros mangás que li foi Astro Boy.


Por que você decidiu estudar especificamente o mangá?
Ensino história da arte, e minhas aulas abrangem tanto arte japonesa quanto arte ocidental. Foi através da história da arte que me interessei. O aspecto gráfico dos mangás, mesmo que tenham sofrido influência das histórias em quadrinhos americanas, permanece único, sem dúvida porque suas raízes estão firmadas na arte tradicional japonesa.


Para aqueles que não conhecem nada de mangá: por que o mangá é um tipo de arte tão importante para o Japão e o mundo?
O mangá lida com uma infinidade de assuntos. Existe mangá para todas as idades. Alguns leitores são apaixonados pelas aventuras que lá descobrem; outros, pelo seu aspecto psicológico ou cômico. Há também muitos mangás educacionais extremamente bem feitos, sobre a história do Japão, pessoas famosas ou artistas de todo o mundo, etc. Os mangás são importantes porque são uma parte intrínseca da cultura japonesa. Eles agora influenciam os quadrinhos de muitos países. Graças a eles, muitas crianças ao redor do mundo descobriram a cultura japonesa, o modo de vida japonês, etc., e querem aprender a língua japonesa.


Quais são as principais diferenças entre a publicação de 2002 e a versão atual de seu livro ?
A nova versão do livro apresenta muitos dos mangás mais recentes, incluindo o famoso Demon Slayer e mangás de sucesso que ainda não foram traduzidos, mas certamente serão em breve. Por outro lado, desta vez, eu queria mostrar a conexão entre mangá e arte tradicional e apresentei artistas como Yamaguchi Akira, Shiriagari Kotobuki, etc., que são pintores e mangaka e que se inspiram em rolos pintados emakimono e estampas ukiyo-e para criar alguns de seus trabalhos. Também pude entrevistar novos mangaka e pessoas que trabalham em grandes editoras japonesas. Meu objetivo é mostrar que os mangás de fato pertencem à cultura artística do Japão e que estão alinhados com as obras tradicionais.


Qual é o mangá ideal para aqueles que querem se lançar à leitura desse tipo de quadrinho?
Acho que o melhor para novos leitores é folhear vários mangás antes de mergulhar neles. Dependendo da idade e da sensibilidade, eles encontrarão, tenho certeza, o mangá ideal, aquele que não conseguirão largar até terminar de lê-lo. Espero que meu livro lhes permita descobrir novos aspectos dessa rica cultura do mangá e que esses leitores queiram descobrir o belo país que é o Japão.

  


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