IVÃ, O CAVALEIRO DO LEÃO


Os cavaleiros da Távola Redonda são uma das sagas medievais mais conhecidas da literatura, e nunca deixaram de renovar, ao longo dos séculos, o fascínio por seus personagens. Personificando a mais alta patente da cavalaria na corte do rei Artur, no início do século XIII, tinham como característica a lealdade e a obstinação em prol da segurança e do bem-estar da realeza que protegiam. Um deles, no entanto, brilhava ainda mais por suas inúmeras virtudes: o personagem que dá título ao livro, Ivã, o Cavaleiro do Leão.

Sua personalidade guerreira sempre o impele às mais duras batalhas. Por ser um cavaleiro tão especial, ele não combate com uma arma qualquer, mas sim com a Espada Eterna, que não é nem grande nem pequena, nem leve nem pesada — mas exatamente como deve ser, pois o melhor de todos cavaleiros só pode empunhar a melhor de todas as espadas. Assim, nem mesmo um dragão, com seu hálito de fel, fogo e veneno, é capaz de intimidar Ivã: um único golpe basta ao poderoso cavaleiro para abater a horripilante besta-fera. 

Mas um verdadeiro cavaleiro não é aquele que apenas sabe lutar: por ter tido a gentileza de servir vinho à dama Lunete numa ocasião em que todos os demais a maltrataram por ela ter vencido um homem num jogo de xadrez — um acinte para os modos da época — Ivã logo seria recompensado por isso. Ela o retribui quando ele se vê em maus lençóis depois de ter matado, ainda que em legítima defesa, o senhor do castelo do reino Pertinho. Lunete dá a Ivã um anel mágico, capaz de tornar invisível a pessoa que o segurar nas mãos. Assim, sem ser visto dentro do próprio castelo do homem que matou, Ivã conhece Laudine, a viúva, e fica atônito diante de tão hipnótica beleza. Ele se apaixona imediatamente. Como soberano do reino Pertinho, Ivã poderia viver dias tranquilos e sem sobressaltos na companhia da amada Laudine. Mas a missão de um cavaleiro é combater, e assim ele embarca numa cruzada que inclui uma épica batalha contra um gigante de força descomunal e tido como invencível, que arranca árvores como os homens arrancam flores. 

Nosso heroico cavaleiro ainda trava uma insólita amizade com um leão, sem desconfiar que a maior das aventuras ainda o espera... É assim, ao tratar de valores como honra e bravura, que essa linda história medieval conserva seu encanto, cativando leitores de todas as idades. O livro é uma adaptação do romance homônimo de Hartmann von Aue, poeta alemão do século XIII, que, por sua vez, também traduzira livremente sua obra a partir do texto original de Chrétien de Troyes (1135-1191), trovador francês tido como um dos precursores dos romances de cavalaria.


                                                                                                   


FELICITAS HOPPE

Felicitas Hoppe nasceu em 22 de dezembro 1960, em Hamelin, onde cresceu, e desde 1996 vive na capital alemã, Berlim. Estudou literatura e teologia, e trabalhou com dramaturgia teatral e no jornalismo. Estreou na literatura em 1991, mas seu primeiro sucesso veio com Picknick der Friseure [Piquenique dos Cabeleireiros, 1996], livro de contos curtos. Três anos depois, lançou Pigafetta, livro no qual relata suas viagens a bordo de um navio cargueiro. Publicou ainda, entre outros títulos, o romance Johanna [2006], na qual refaz a figura de Joana D’Arc, combinando realidade e ficção; e Hoppe [2012], espécie de “autobiografia ficcional”, em que cria uma vida alternativa para a personagem Felicitas Hoppe. Em 2012, foi laureada com o Georg Büchner Prize, a mais prestigiosa honraria literária da Alemanha.