DESCREVER O VISÍVEL  

Compondo um abrangente estudo sobre a utilização do cinema como instrumento de pesquisa antropológica e etnográfica, Descrever o visível é o resultado de anos de trabalho de antropólogos-cineastas, sob a organização de Marcius Freire e Phillipe Lourdou, ambos partícipes da escola de Nanterre de documentário antropológico criada por Jean Rouch.

Reunindo dez textos relevantes a respeito da chamada antropologia fílmica, a obra apresenta, por meio de reflexões conceituais e estudos de caso, olhares diversos — mas, não raro, convergentes — sobre os procedimentos de mise en scène do documentarista frente aos inúmeros desafios que esse tipo de aproximação do objeto de estudo acarreta: desde as dificuldades de inserção em algumas sociedades não acostumadas ao “intruso” cineasta, passando pela quase sempre inevitável perda de naturalidade ocasionada pela presença da câmera e chegando à perigosa fase de edição. O que mostrar, como mostrar e por que mostrar são questões primordiais e cotidianas ao documentário antropológico e norteiam as ponderações presentes nos dez textos que integram o livro.

“A seleção de textos, artigos, e excertos de pesquisas e teses aqui apresentada não tem como vocação primeira propor resultados, mas, antes, mostrar o pesquisador durante a fase, frequentemente crítica, em que ele se encontra às voltas com a parte fílmica de seu trabalho — fase na qual se engaja em uma espécie de segundo corpo a corpo com ‘os homens e a matéria’, que reproduz, de maneira diferida, aquilo que ele realmente viveu e exerceu quando do registro propriamente dito das imagens —, e onde começa o encaminhamento analítico de sua abordagem. Com efeito, é o momento crucial em que, após ter mensurado seus eventuais sucessos e seus inevitáveis malogros ou imperfeições, o pesquisador deve, em seguida, levar em conta e tirar partido de certos dados coletados cinematograficamente. Dessa forma, penetra-se no laboratório de pesquisa, uma vez que as imagens fílmicas recolhidas [...] constituem, para o pesquisador-cineasta, um segundo trabalho de campo.” (M. Freire e P. Lourdou, na introdução ao livro).



Leia um trecho da obra


          


ORGANIZADORES

Marcius Freire, doutor em cinematografia pela Universidade Paris X-Nanterre, é professor livre-docente na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). É também  pesquisador associado da Formation de Recherches Cinématographiques, da Université Paris X–Nanterre, do LABCOM (Laboratório de Comunicação da Universidade da Beira Interior-Portugal) e membro do Comité du Film Ethnographique – Paris.


Philippe Lourdou, doutor em cinematografia pela Universidade Paris X-Nanterre, é membro da Société des Africanistes, do Comité du Film Ethnographique e da Formation de Recherches Cinématographiques-FRC da Université Parix X–Nanterre. Ensina cinema antropológico no Master 2 (mestrado acadêmico), na linha de pesquisa “Cinema antropológico e documentário” da mesma universidade.