NÃO ADIANTA MORRER 


Ecoando o poema “Nosso tempo”, de Carlos Drummond de Andrade, Francisco Maciel diz:  “Como sou um dos homens partidos, minha missão possível é juntar os cacos”. E é isso que ele faz em Não adianta morrer, seu segundo romance pela Estação Liberdade (e cujo título também cita Drummond, quando o poeta pontifica: “Chegou um tempo em que não adianta morrer”).

O universo de Não adianta morrer está ancorado nas ruas do bairro do Estácio, no centro do Rio de Janeiro. Maia de Lacerda, Professor Quintino do Vale, Sampaio Ferraz, Haddock Lobo, Professor Higino, enveredando pelos botecos, pelas bocadas, pelos atalhos dos morros e pela multiplicidade de vozes de seus personagens, o Rio realista e mágico de Maciel ganha vida. Os cacos se juntam e formam um “tabuleiro de damas (e cavalheiros)”, como define o autor, onde a recompensa do jogo é mais um dia para viver e sonhar “na cidade das balas perdidas, no país das oportunidades perdidas, no planeta das guerras pela paz”.

Os personagens que Maciel nos apresenta — Pedrão, Vovô do Crime, Guile Xangô, Lana, Olívia, Mirtes, Dafé, Marcelo Cachaça, as Comadres, os Quatro Mandelas, e mais vários outros — se cruzam neste cenário e criam uma narrativa polifônica no fio da navalha entre verdade e ficção. E no cotidiano hostil do ambiente retratado pelo autor, os destinos costumam ser previsíveis.

Mas não é a violência o motor da obra, que também não se trata de um romance social. No tabuleiro de dramas do livro, são as amizades, desavenças, flertes, crimes, pecados e delírios dos personagens os responsáveis por revelar pouco a pouco a magia do romance, construído com total controle narrativo por seu autor. As várias vozes enriquecem a trama e Maciel transita de ação cinematográfica a descrições impressionistas, salpicando sua história com referências intertextuais (de Edgar Allan Poe a Santo Agostinho, passando pelo cancioneiro brasileiro) e a ironia fina que lhe é característica. Não adianta morrer é uma narrativa fervilhante, um rodopio por um mundo real imaginado, na companhia de figuras inconfundíveis e sob a batuta de um grande escritor.


LEIA UM TRECHO    

É com imenso orgulho que anunciamos que Não adianta morrer, romance de Francisco Maciel publicado pela editora Estação Liberdade em 2017, será traduzido e publicado em países de língua inglesa, como Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Austrália e outros. Quem adquiriu os direitos para publicação foi a New Vessel Press, editora norte-americana que aliás publicou a tradução de outro romance brasileiro, A palavra que resta, de Stênio Gardel, recém premiada com o National Book Award. 


FRANCISCO MACIEL



FRANCISCO MACIEL nasceu em São Gonçalo, Rio de Janeiro, em 1950. Começou a frequentar a escola aos seis anos de idade, para escapar dos trabalhos braçais que já fazia. Através de concurso, conseguiu ingressar num colégio de elite de Niterói no segundo grau. Na faculdade, começou a cursar jornalismo, mas desistiu no meio do caminho por se sentir “tolo demais e despreparado para a vida”. Pegou a mochila e rodou de carona pelo Brasil e outros lugares da América do Sul. Foi escritor precoce: desde os dez anos, escreve de forma obcecada e diligente. Em 1997, venceu o Prêmio Julia Mann de Literatura, promovido pelo Goethe Institut, e cujo conto “Entre dois mundos” batizou a coletânea com todos os textos vencedores publicada em 2001 pela Estação Liberdade – que também editou o primeiro romance dele, O primeiro dia do ano da peste, no mesmo ano. Em 1998, teve um texto seu, Morto de paixão na Avenida Brasil, levado ao teatro por Domingos de Oliveira. Casado, Maciel vive hoje em São Gonçalo, para onde voltou após o “exílio” no Estácio.                                                                                              



Livro
Formato 14x21cm
Páginas 288
ISBN 978-85-7448-245-3

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