A MULHER DAS DUNAS 

 

Obra-prima de Kobo Abe, escritor japonês experimental

Jumpei Niki, o protagonista deste livro, é professor de escola e também colecionador de insetos. Por causa desta sua segunda atividade e por querer gravar seu nome na eternidade de maneira um tanto exótica, ele excursiona solitário a um vilarejo distante, localizado em meio às dunas de um grande areal.

Os moradores do povoado oferecem-lhe uma hospitalidade duvidosa, que aparentemente não passa de um disfarce para intenções muito menos virtuosas; e ele se encontra de repente sem saída como os insetos que captura, preso junto à mulher que habita a casa em que ele pernoitou.

Os dois trabalham incessantemente, tirando a areia que não cessa de impregnar tudo; e a partir daí Kobo Abe faz com que os leitores reflitam sobre o valor do trabalho, sobre o tempo, a liberdade e a solidão, sobre a vida na cidade e fora dela, sobre a perseverança do ser humano em viver apesar de todo o sofrimento.

A estranheza de A mulher das dunas reside tanto na linguagem peculiar da narração quanto nas ações e nos modos de pensar dos personagens, além das propositais confusões de tempo e espaço. Entram em cena diversas situações absurdas, que o indivíduo tem de suportar sem que ninguém, a não ser ele próprio, enxergue nelas algo de errado. Num primeiro instante, tais situações perturbam, de tão ilógicas e surreais, mas, conforme se repetem, se revelam reconhecíveis e compatíveis com os fatos da vida além da ficção.

Assim, sem dúvida alguma, a estranheza atrai mais do que afasta. Quem atender ao convite à leitura desta obra sui generis, sobretudo aqueles que por acaso tendem um pouco à paranoia ou à claustrofobia, sentirão inevitavelmente certo incômodo. Mas um incômodo daqueles prazerosos, nos quais se descobre uma felicidade profunda e se pressente um aprendizado duradouro.

Acompanhar o que acontece com Jumpei Niki é, junto a ele, perder de vista o horizonte, porém, ainda assim, confiar que este continua tecido entre céu e terra. É untar-se de areia dos pés à cabeça, da garganta ao lado de dentro das pálpebras, dos vãos entre os dedos ao fundo da alma. E é também aprender os momentos certos de saber quando olhar para dentro de si mesmo e para fora.

Em 1964, A mulher das dunas ganhou uma adaptação para o cinema, em filme homônimo dirigido por Hiroshi Teshigahara, um clássico da filmografia japonesa.


REPERCUSSÃO

“A mulher das dunas, romance estranho e desolador de Kobo Abe sobre um homem preso em um buraco na areia, é uma parábola da condenação ou da salvação? Ambas. É uma metáfora da condição humana.”
— The Guardian

“A obra-prima existencialista de Kobo Abe é uma grande dose de frescor espiritual que pode escoar para dentro da pele e da mente.”
— The Japan Times

“Aqui está a crueldade, a estupidez, a sujeira, uma variedade de primitivas atividades físicas bem repulsivas em seu frenesi. Mas lê-se a história avidamente, admirando o brilhantismo do autor.”
— The New York Times





KOBO ABE


Kobo Abe nasceu em 1924, em Tóquio. Cresceu na Manchúria chinesa, na época dominada pelos japoneses, onde seu pai lecionava e praticava medicina. Escreveu romances, contos, poesia, peças de teatro e ensaios, além de ter colaborado em adaptações de sua obra para o cinema. Escritor de vanguarda, fez uso de surrealismo, de situações absurdas e bizarras, de alegorias para representar a vida moderna. Formado em medicina, jamais exerceu profissão. Foi membro do Partido Comunista Japonês, até que o exército soviético interviesse na Hungria e o decepcionasse. Em 1962, ano em que deixou o partido, foi publicado A mulher das dunas, seu livro de maior sucesso. Recebeu renomados prêmios literários no Japão, como o Akutagawa, o Yomiuri e o Tanizaki. Faleceu em 1993, em Tóquio.




Livro
Tradutor Fernando Garcia
Formato 14x21cm
Páginas 288
ISBN 978-65-86068-26-9

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