ATÉ ONDE VOCÊ IRIA PARA SER VOCÊ MESMO?

Terráqueos questiona e confronta o conceito de normalidade da sociedade atual

Terráqueos é o segundo romance da autora japonesa Sayaka Murata publicado pela Estação Liberdade, e assim como em Querida Konbini Murata questiona e confronta o conceito de normalidade da sociedade atual e nos deixa com uma simples pergunta: até onde você iria para ser você mesmo?

A protagonista e narradora de Terráqueos é Natsuki. Ela poderia passar por uma criança comum, com devaneios infantis, como a crença em dons mágicos, seres extraterrestres e bruxas. Mas, conhecendo sua história, questionamo-nos se esses não são, na verdade, mecanismos de fuga que a menina desenvolveu para lidar com uma sociedade opressora — e, mais especificamente, com traumas desencadeados por abusos de diversas ordens. Seu estranho namoro com o primo Yuu, seus “poderes mágicos” e seu amigo de pelúcia Piyut são as únicas coisas que mantêm Natsuki — em suas próprias palavras — sobrevivendo, já que viver lhe parecia algo muito fora de alcance. “Até quando eu teria de sobreviver? Será que algum dia poderia apenas viver e não sobreviver?”

Sentindo-se desajustada, a pré-adolescente vê o mundo, a sociedade, como uma grande Fábrica de Gente, que para ela se assemelha ao “quarto dos bichos-da-seda” da casa de férias de seus avós, no qual se produziam os “bebês de bicho-da-seda”, tal qual os bebês humanos na Fábrica. Para Natsuki, ou você se ajusta e se torna uma peça na engrenagem das coisas, ou é excluído. Apesar de, em seus desatinos, não considerar a si mesma uma terráquea, mas sim uma alienígena, originária do planeta Powapipinpobopia, ela decide tentar se ajustar ao funcionamento da Fábrica.

Na vida adulta, porém, esse ajustamento pode ser mais difícil que o planejado por Natsuki, e sua inconformidade social a leva a comportamentos extremos. A partir do retorno à casa de férias e do reencontro com Yuu, a trajetória da protagonista toma contornos inesperados, e até mesmo absurdos. 

Nesta trama genial e provocante, Sayaka Murata, assim como em Querida konbini — só que desta vez com mais audácia — desafia tabus, colocando em pauta temas como a obrigatoriedade do trabalho, do casamento, do sexo e da reprodução, bem como a noção de família e os papéis de gênero. Uma leitura perturbadora, da qual certamente não saímos de forma plácida.


REPERCUSSÃO

"A força de sua voz [Sayaka Murata] está nas lentes ingênuas através das quais ela filtra sua visão sombria da humanidade: nós, terráqueos, somos robôs truncados e tristes, arrastando-nos pelo mundo em um sonho confuso."

Holly Williams, The Guardian


Earthlings é uma leitura frequentemente perturbadora, mas com muito ritmo e com seu próprio humor desafinado.”

Lydia Millet, The New York Times



"Repetidamente, Murata frustra nosso desejo de fazer julgamentos ou encontrar significado com base em normas aceitas. Se o final do livro parece irreal e nos deixa perplexos, talvez Murata tenha tido sucesso em seu experimento — e nós fomos seus temas o tempo todo."

Stephanie Hayes, The Atlantic




SOBRE A AUTORA 




          

Sayaka Murata nasceu em 1979 em Inzai, na província de Chiba, próxima a Tóquio. Fã de mangás e ficção científica, desde a infância já escrevia histórias. Frequentou a Universidade Tamagawa em Tóquio e passou a estudar escrita criativa paralelamente. 


Querida konbini, seu décimo livro, marcou seu nome entre os mais celebrados da nova literatura japonesa: a obra chega à marca de 700 mil exemplares vendidos no Japão, ganhou o prêmio Akutagawa,um dos mais prestigiosos do país, e rendeu à autora um lugar entre as mulheres do ano da Vogue Japão em 2016. A obra está no prelo ou  publicada em 18 idiomas pelo mundo e já atingiu status de best-seller internacional. Antes, Murata havia recebido os prêmios Gunzo e Noma, em 2003 e 2009, ambos voltados para novos escritores, e o prêmio Yukio Mishima, em 2013.

Os temas abordados por ela costumam se relacionar à não conformidade dentro da sociedade japonesa nas relações de gênero, trabalho e na sexualidade, frequentemente incorporando aspectos distópicos ou de horror. Seu conto “Um casamento limpo”, sobre um casal que deseja conceber um filho sem fazer sexo, foi publicado na Granta Vol. 13: Traição, também em tradução de Rita Kohl.

Curiosamente, Murata, que mora em Tóquio, também trabalhou por mais de uma década em uma konbini, desde a faculdade até quase um ano depois do sucesso estrondoso deste romance. O trabalho na loja a ajudava com a rotina da escrita e lhe permitia uma das suas atividades preferidas:observar pessoas comuns em seu dia a dia.



Livro
Tradutor Rita Kohl
Formato 14x21cm
Páginas 288
ISBN 978-65-86068-24-5

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