AS MIL CASAS DO SONHO E DO TERROR
Sempre me perguntarei qual a receita de Atiq Rahimi para conciliar com tanto efeito numa mesma obra a delicadeza oriental de contos parecendo saídos de um tapete persa e a dura realidade política de um Afeganistão vítima das dilacerações da Guerra Fria e de seu corolário de infindáveis conflitos civis e golpes de Estado. O que já era magistral em Terra e cinzas vem em dose redobrada agora nesta história onde se conjuram sonhos suaves e djins maléficos; cenas de repressão tristemente universais e citações de clássicos da literatura persa antiga; o despertar para o amor ao abrigo de pátios orientais e a férula da bota de soldados — até a longa viagem para o exílio num tapete muito real. Imagens que ficam, também, de um país (ainda) com salas de leitura em bibliotecas universitárias, estudantes militantes — qual a causa certa do momento?, quais as palavras de ordem a seguir?, em meio à liberdade de uma eventual embriaguez e anacrônicos pontos de ônibus com nomes de paradas. Que fim dá o impiedoso turbilhão da História a ternos personagens sempre mais fortes do que ela, pois movidos à certeza de que “o homem dá mais crédito a seus sonhos que à realidade”?
ATIQ RAHIMI Atiq Rahimi é um autor, cineasta e artista gráfico nascido em 1962, em Cabul. Frequentou a escola franco-afegã Esteqlal e estudou letras na universidade da capital afegã. Em 1984, durante a guerra, deixou o país rumo ao Paquistão. Obteve asilo político na França, onde fez doutorado em comunicação audiovisual na Sorbonne. Suas primeiras obras publicadas no Brasil foram Terra e cinzas e As mil casas do sonho e do terror, escritas em persa e posteriormente vertidas por ele para o francês. Syngué sabour — Pedra-de-paciência, que já escreveu em francês e publicada em trinta países, venceu o prêmio Goncourt em 2008. Terra e cinzas e Syngué sabour foram adaptados para o cinema com direção e roteiro do próprio autor. Em 2018, Atiq filmou em Ruanda a adaptação cinematográfica de Nossa Senhora do Nilo, de Scholastique Mukasonga. Esteve diversas vezes no Brasil, sendo a última em 2018, para o lançamento de sua autobiografia lírica A balada do cálamo. Atualmente, vive e trabalha em Paris. |
Livro | |
Tradutor | Marina Appenzeller |
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Formato | 14x21 cm |
Páginas | 184 |
ISBN | 978-85-7448-076-3 |