O REFLEXO PERDIDO E OUTROS CONTOS INSENSATOS
Esta coletânea, intitulada O reflexo perdido e outros contos insensatos e organizada, traduzida,prefaciada e anotada por Maria Aparecida Barbosa — de Reflexões do gato Murr, também publicado pela Estação Liberdade —,propõe um recorte abrangente e revelador da obra de E. T. A. Hoffmann (1776–1822). Os textos atestam o virtuosismo estilístico e temático do autor, que se tornou um dos principais expoentes do Romantismo alemão por sua originalidade, irreverência e iconoclastia.
A difusão das fronteiras entre realidade e ficção, a intertextualidade com seus contemporâneos (inclusive “emprestando” personagens de outros autores), o teor filosófico com que envolve seus temas fantásticos e de horror: essas são algumas marcas de Hoffmann que tiveram grande influência na literatura alemã posterior a ele. Sobre o princípio que permeia esta edição, o prefácio da organizadora, citando o autor, explica: “a poesia deve estar imbuída de fecunda fantasia, as personagens cheias de vida devem ter feições plásticas delineadas de modo a envolver com força mágica [...]”.
Está incluída na coletânea a narrativa fantástica “O Homem-Areia”, que tornou Hoffmann conhecido no Brasil (indiretamente, uma vez que o texto é citado por Sigmund Freud em seu ensaio “Das Unheimliche” [“O Inquietante”], que trata da literatura que causa medo). Outro clássico em nova tradução é “O Quebra-Nozes e o Rei dos Camundongos”, selecionado “não pelo exclusivo fato de ter imortalizado Hoffmann no âmbito do balé”, como explica o prefácio, “mas também por ser um conto de horror que explora de maneira vertiginosa a inclusão de personagens duplos”.
O conto do título (“O reflexo perdido ou As aventuras da noite de São Silvestre”) se inscreve na tradição literária do Fausto, já que o melancólico protagonista Erasmus Spikher acaba, em seu desejo por coisas mundanas, firmando um pacto que lhe custa seu reflexo. Nesta história, Hoffmann inclui o personagem Peter Schlemihl, criado por Adalbert von Chamisso, e também faz um aceno aos naturalistas e a Alexander von Humboldt, mostrando um escritor extremamente atento ao momento literário e científico em que vivia.
A ficção “O Conselheiro Krespel ou O violino de Cremona”, bem como os trechos dos ensaios “Kreisleriana” (atribuídos a Kreisler, o músico de Reflexões do gato Murr), mostram outra paixão do autor: a música. As narrativas são pontuadas por suas ideias estéticas — Hoffmann também foi compositor de óperas, algumas de razoável sucesso, como Undine —,incluindo críticas ao que a tradutora chama de “malefícios que a bem-intencionada tentativa de determinação e explicação da arte podem provocar[...]”.
Em “As minas de Falun”, Hoffmann resgata temas elementares da cultura germânica e cria um conto de terror recheado de figuras poéticas românticas. O prefácio pondera que o conto “está imbuído da questão fundamental do anacronismo poético, que fora sintetizada por Johann Peter Hebel[e] que reincide em Trakl, Kandinsky e tantos outros poetas modernistas. Isso nos permite então, novamente, pensar no escritor Hoffmann destituído de rígidas amarras do século XIX, e alçá-lo à categoria de atemporal e profundamente contemporâneo.”
E.T.A HOFFMANN Ernst Theodor Wilhelm Hoffmann nasceu em Königsberg, na Prússia Oriental, em 1776. Desenvolveu carreira como jurista, atuando em tribunais de apelação em Berlim e em Varsóvia. Mas desde cedo já demonstrava inclinação para as artes, como pintura, teatro e, sobretudo, música clássica (era admirador de Mozart, de quem adotou o nome Amadeus em substituição a Wilhelm), passando a dedicar-se a tais paixões de modo integral a partir de 1808. Foi homenageado por Jacques Offenbach com a ópera Os contos de Hoffmann, baseado em três histórias do autor. De saúde permanentemente frágil, agravada pelo abuso de álcool, ele seguiu produzindo até o fim da vida, inclusive ditando a um escriba quando sua condição motora já estava comprometida por uma paralisia progressiva que se mostraria fatal. Faleceu de forma precoce em 25 de junho de 1822, aos quarenta e seis anos de idade. Por esta casa, tem publicados o romance Reflexões do gato Murr (2013) e a coletânea O reflexo perdido e outros contos insensatos (2017). |
Livro | |
Tradutor | Maria Aparecida Barbosa |
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Formato | 14x21cm |
Páginas | 264 |
ISBN | 978-85-7448-264-4 |