E DEPOIS
Considerado o primeiro romance psicológico do autor, E depois inaugura o estilo que marcará seus últimos trabalhos, nos quais há grande destaque para a construção da interioridade dos personagens. A linguagem é direta e econômica, com digressões que ressaltam um caráter analítico. Soseki é o patrono da literatura moderna em seu país.
No Brasil, já foi comparado a Machado de Assis (1839-1908), sobretudo pela grande influência de Lawrence Sterne (1713-1768) sobre a obra de ambos. O universo de E depois é compacto e gira todo em torno do protagonista Daisuke Nagai e sua visão de mundo. Jovem solteiro de 30 anos, ele não trabalha nem vê razão para tal. É sustentado pelo pai abastado, que, por sua vez, não se incomoda tanto com a ociosidade do filho, afinal, dinheiro não lhe falta. No entanto, exige que seu herdeiro se case, por uma questão de valores sociais e de interesse para os negócios. Essa situação é uma ofensa para o espírito do filho, contestador da ordem moral vigente e que busca afirmar o tempo todo a importância do individualismo.
Historicamente, o romance reflete as transformações provocadas pela Restauração imperial Meiji, iniciada em 1867, quando os imperadores retomam o poder depois de séculos de xogunato. Nessa época, o Japão era ainda uma nação periférica que visava igualar-se às grandes potências e que iniciava a abertura para o Ocidente. Para Daisuke, esse desejo resulta em uma preocupação em manter uma fachada, escondendo as mazelas nacionais.
Questiona a forma como o próprio pai enriqueceu nesse novo contexto econômico, mas não o enfrenta. Orgulha-se de ser um covarde. “Daisuke é típico dândi, sensível, inteligente, vaidoso, frequentador das altas rodas, grande apreciador das artes e das gueixas. A visão crítica que tem de tudo o que o cerca, no entanto, está longe de torná-lo um rebelde padrão, tampouco sem causa.
São muitas as causas e razões desse protagonista, como revelam suas digressões mordazes”, como destaca a orelha desta edição. “Herói às avessas, Daisuke carrega um incômodo permanente numa vida repleta de comodidades, uma vivacidade colocada sempre em dúvida por sua hipocondria.” Todos esses embates, Daisuke trava mais em sua interioridade do que com a realidade, vai na medida do possível engambelando a família até que uma situação o coloca contra a parede: passa a gostar da mulher de um grande amigo. No entanto, o triângulo amoroso não é mote para sentimentalismos, mas o combustível de um homem decidido a romper padrões.
NATSUME SOSEKI Soseki nasceu em Tóquio em 5 de janeiro de 1867. Teve infância difícil e solitária. Aos 23 anos, inicia seus estudos de literatura inglesa. Sempre vítima de crises nervosas, viaja à Inglaterra em 1900 como bolsista do Ministério da Educação. Não se adapta à cultura ocidental, entra novamente em depressão e regressa ao Japão em 1903. Seu recorrente estado depressivo o afasta da família. Falece em 9 de dezembro de 1916. Soseki permanece até hoje como um dos escritores mais populares e lidos do Japão. Destacou-se em todos os tipos de escrita, assinando importante obra de teoria literária, totalmente inovadora para a época. Se de um lado foi marcado pela influência ocidental, de outro apregoou a valorização da cultura tradicional nipônica. |
Livro | |
Tradutor | Lica Hashimoto |
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Formato | 23x16 cm |
Páginas | 288 |
ISBN | 978-85-7448-201-9 |