O MESTRE DE GO
De 26 de junho a 4 de dezembro de 1938, os leitores do prestigioso diário Tokyo Nichi-nichi Shinbun (hoje Mainichi Shinbun) acompanharam o relato aficionado de uma histórica partida de Go, jogo japonês de estratégia em que dois adversários tentam encurralar o outro invadindo e controlando seu território no tabuleiro.
O “invencível” mestre Shusai e Minoru Kitani (aqui portando o nome de Otake), protagonistas da última partida profissional do grande mestre, jogaram por quase seis meses. A morte do grande mestre em 1940 motivou Yasunari Kawabata a transformar suas 64 reportagens em obra literária plena, terminada apenas em 1954.
O mestre de Go é reconhecido por Kawabata como uma de suas obras mais autênticas, e entendimento das regras do jogo sequer é necessário para apreciar o livro. O embate está igualmente nos gestos e expressões do adversário, nas regras rígidas estabelecidas nos mínimos detalhes, nas tensões dos bastidores, e até mesmo no papel desempenhado por um fio de sobrancelha. Nesse sentido, a partida permite várias leituras, inclusive aquela que coloca em jogo a oposição entre o Japão imperial tradicional e o modernizante.
Apesar das regras simples, o Go é um jogo de desenvolvimento extremamente complexo e repleto de sutilezas, sempre exploradas pelos adversários. O que fascinou Kawabata foi o grande choque psicológico e a estrutura emocional dos jogadores num torneio infindável, fazendo deste relato muito mais do que a crônica de uma partida monumental.
YASUNARI KAWABATA Prêmio Nobel de 1968, Yasunari Kawabata é considerado um dos representantes máximos da literatura japonesa do século XX. Nasceu em Osaka, em 1899. Após uma infância solitária e sofrida, interessou-se cedo pelos clássicos japoneses, que viriam a ser uma de suas grandes inspirações. Kawabata estudou literatura na Universidade Imperial de Tóquio e foi um dos fundadores da Bungei Jidai, revista literária influenciada pelo movimento modernista ocidental. Acompanhado de jovens escritores, defenderia mais tarde os ideais da corrente neossensorialista (shinkankakuha), que visava uma revolução nas letras japonesas e uma nova estética literária, deixando de lado o realismo em voga no Japão em prol de uma escrita lírica, impressionista, atravessada por imagens nada convencionais. Ao contrastar o ritmo harmônico da natureza e o turbilhão da avalanche sensorial, Kawabata forjou insólitas associações e metáforas táteis, visuais e auditivas que surpreendem diante do cotidiano, numa composição com tons levemente surreais de elementos de cultura e filosofia do Oriente, personagens acuados e cenários inóspitos. Sua obsessão pelo mundo feminino, sexualidade humana e o tema da morte (presente em sua vida desde cedo, sob a forma da perda sucessiva de todos os seus familiares) renderam-lhe antológicas descrições de encontros sensuais, com toques de fantasia, rememoração, inefabilidade do desejo e tragédia pessoal. Desgastado por excesso de compromissos, doente e deprimido, Kawabata suicidou-se em 1972. |
Livro | |
Tradutor | Meiko Shimon |
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Formato | 14x21cm |
Páginas | 224 |
ISBN | 978-85-7448-204-0 |