Alberto Giacometti, biografia de um desassossegado

Catherine Grenier, diretora da Fondation Giacometti em Paris, escreve vida e obra do artista plástico suíço

Alberto Giacometti não é somente um artista essencial do século XX; é também uma de suas personalidades mais originais. Fruto de novas pesquisas, esta biografia nos coloca na intimidade de um artista assombrado por sua própria obra, sempre impulsionado por uma exigência sem concessões.

Após uma juventude vivida no ateliê do pai na Suíça, e então no ateliê do escultor Antoine Bourdelle em Paris, o jovem artista se emancipou dos primeiros mentores, voltando-se para o cubismo, depois para o surrealismo.

Apesar do veloz reconhecimento de seu trabalho e da amizade admirativa de André Breton, ele se afastou rapidamente dos objetos surrealistas que o tornaram célebre, para embarcar numa fuga solitária que o levaria à margem das correntes em voga. Amigo de grandes artistas e intelectuais, ele traçou um caminho particular na intimidade solitária de seu mítico ateliê na rua Hippolyte-Maindron, no bairro parisiense de Montparnasse.

Profundamente ligado à representação humana, influenciado pelas artes arcaicas e não ocidentais, afastou-se de uma representação naturalista para adotar uma visão sintética e por vezes alucinada da figura do ser humano, carregada de um poder misterioso.

Catherine Grenier conta-nos o destino e o percurso único de Alberto Giacometti, sua vida e sua obra, numa biografia para ser lida como um romance. O volume, ademais, contém um caderno de imagens com reproduções de obras do artista e fotografias de sua carreira.

Um fato que comprova a importância imanente de Alberto Giacometti no universo das artes é que as três esculturas de valor mais alto jamais negociadas atualmente são dele: L’Homme au doigt [O homem que aponta], vendida por US$ 141,3 milhões, seguido de L’Homme qui marche I [O homem andando I], US$ 104,3 milhões, e Chariot [A carruagem], US$ 101 milhões. Todas as três obras são citadas por Grenier no livro e ajudam a contar a história do artista.


Título: Alberto Giacometti
Autor: Catherine Grenier
Tradução: Mauro Pinheiro
ISBN: 978-65-86068-74-0
Formato: 16 x 23 cm / 368 páginas
Edição com encarte ilustrado


A autora

Historiadora de arte e curadora, Catherine Grenier, nascida em Lyon, é diretora da Fondation Giacometti, em Paris, desde 2014. Foi diretora do Musée National d’Art Moderne – Centre Pompidou, trabalhando em mais de trinta exposições de artistas modernos e contemporâneos. Desde que chegou à Fundação, organizou (e coorganizou) exposições originais dedicadas a Giacometti em cerca de quinze países e em instituições de renome como a Tate Modern, em Londres, e o Guggenheim Museum, em Nova York. Contribuiu também para o museu Mohammed VI, em Rabat, o Centro de Arte de Seul e o Musée National des Beaux-Arts du Québec. Foi curadora da primeira exposição a revelar pontos de contato entre Giacometti e Picasso, montada no Musée National Picasso-Paris e na Fire Station Doha, no Catar. Dedicou-se a diversos livros sobre artistas contemporâneos, como Annette Messager, Christian Boltanski, Sophie Ristelhueber, Maurizio Cattelan, e sobre artistas modernos, como Salvador Dalí. Publica constantemente ensaios, como La fin des musées ?, de 2013, e La manipulation des images dans l’art contemporain, de 2014.
 
 
Trechos

“Desde a infância, Alberto demonstra sua singularidade. ‘Ele lia um bocado e desenhava o tempo todo, nunca brincava com os outros, ou então o fazia muito raramente’, recorda-se o irmão Diego. Bem cedo, o primogênito acompanha o pai ao ateliê, onde pratica a modelagem e a pintura. ‘Eu tinha visto a reprodução de pequenos bustos sobre um suporte e de imediato senti vontade de fazer o mesmo. Meu pai comprou Plastiline (massa de modelar) e eu comecei.’ Entre os irmãos e a irmã, todos com acesso livre ao ateliê, ele se distingue por suas disposições artísticas, assim como por sua dedicação.” [p. 20]
 
“Em abril de 1930, Alberto expõe pela primeira vez na Galeria Pierre, em companhia de Miró e Arp. Ele apresenta esculturas-placas, dentre as quais uma versão em mármore da Tête qui regarde [Cabeça que olha], e uma nova composição que marca um ponto crítico tanto de seu trabalho como de sua carreira: Boule suspendue [Bola suspensa]. Salvador Dalí se entusiasma com essa obra, na qual vê o protótipo dos ‘objetos de funcionamento simbólico’, novo conceito que ele vai propor aos surrealistas em substituição à prática já demasiadamente explorada da escrita automática.” [p. 90]
 
“Mais uma vez, Giacometti, incomodado com a própria atitude, mas motivado pelo desejo de ter seus direitos reconhecidos, comportou-se de modo excessivamente brutal. Numa carta enviada antes mesmo de ter recebido a resposta de Pierre Matisse, ele tenta restaurar o laço amistoso e profissional, sem contudo renunciar a sua exigência. ‘Caso você não concorde’, escreve-lhe ao final de uma carta voluntariamente cordial, ‘então serei obrigado a vender onde puder e a quem queira comprar e pagar diretamente, sendo essa a única maneira para continuar vivendo, o que será possível, pois três pessoas propuseram comprar assim que eu tiver terminado, e mesmo no estado em que se encontra, o retrato de Diego.’” [p. 210]
 
“Ao lado das exposições, as encomendas de livros constituem outro estímulo ao trabalho ao qual Giacometti responde sempre de maneira favorável. Desde 1959 ele se dedica a um projeto bem ambicioso iniciado pelo amigo Tériade: uma série de litografias sobre suas deambulações em Paris, para uma obra intitulada Paris sans fin [Paris sem fim], para a qual ele se compromete a redigir o texto. Essa longuíssima sequência de desenhos, que ele produzirá até sua morte, constitui uma espécie de diário de suas atividades cotidianas: os deslocamentos a pé nas proximidades do ateliê, os passeios de carro por Paris com Caroline (ele não sabe dirigir), os restaurantes onde Annette, Diego e ele fazem suas refeições, os cafés em Saint-Germain-des-Prés, onde encontra os amigos, os bares noturnos, o ateliê e as obras em execução, a gráfica Mourlot, o apartamento de Annette, uma visita ao Museu de História Natural…”
[p. 297]


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