DESCAMINHOS
Três contos. Três vezes o clima feérico de Paraty, aqui como imagem de um país em gestação. Mais precisamente o Caminho do Ouro, a antiga estrada pela qual chegavam das Minas Gerais ao litoral as riquezas que o Brasil exportava, metáfora de um longo (des)caminho de um belíssimo sonho que sempre teimou em azedar.
Uma vez o século XVII e o belo e puro namoro de um casal de jovens índios em paisagem intocada — a narrativa do primeiro encontro da tribo com viajantes europeus é soberba. Uma vez o século XVIII e um encontro amoroso que parece que nunca vai acontecer, entre uma moça de Minas indo para Portugal e um jovem português viajando em sentido contrário. E uma vez o século XIX, com o encontro de uma negra filha de Ossaim com um escravo africano à beira da morte, enviados para as fazendas dos barões de café do Vale do Paraíba e que dão um belo nó no destino que lhes era reservado.
As três estórias, como o autor faz questão de escrever, se entrelaçam com uma pureza que parece sair diretamente dos riachos e cachoeiras que as transportam através dos séculos. A narrativa é tão precisa, o tom tão justo, que só pode vir de alguém que fez da arte de contar a obra de sua vida. Não surpreende portanto termos por trás delas Marcos Caetano Ribas, o fundador do Grupo Contadores de Estórias e do Teatro Espaço, de onde tem saído, de Paraty para o mundo, a maneira mais bela, mais sincera, e mais poética certamente, de contar as estórias e a história dos povos que formaram o
Brasil. E frente a tamanho talento vindo de uma tradição ao largo do escrito — nem de oralidade se trata, pois os Contadores de Estórias o fazem sem palavras —, como ficamos nós, editores, viciados em palavras e coisas impressas? Sem dúvida um grande descaminho, o nosso, frente a uma arte tão jovial, tão eficiente também — que o digam as repetidas turnês de Marcos e Rachel pelo Brasil e pelo exterior. Justamente porque talvez não passe pelas palavras a melhor maneira de atingir os sentimentos das pessoas, e que cabe a nós, aqui, como editores, um mero — e quão prazeroso — papel de intermediários registradores.
MARCOS CAETANO RIBAS Nasceu em 1947 em São Francisco, MG. Viveu em Minas Gerais, Rio e Brasília, de onde saiu, em 1970, para Nova York, onde estudou teatro com Standford Meysner, Michael Henry e Ana Sokolov, e fundou, com sua esposa Rachel, o Grupo Contadores de Estórias em 1971. Entre 1971 e 1979 encenou grandes espetáculos ao ar livre, com bonecos gigantes. Nos anos 1980, o trabalho se tornou mais intimista, para adultos, com os pequenos bonecos de manipulação direta que os lançaram em turnês internacionais. Mais recentemente, fundiu a consolidada linguagem dos bonecos com os campos da dança e do movimento, para finalmente desaguar em instalações performáticas, como “Museu Rodin Vivo”, com trinta bailarinos. Dirige também o Teatro Espaço, em Paraty, a polivalente sede nevrálgica hoje de um trabalho unanimemente elogiado. |
Livro | |
Formato | 14x21x1,2 cm |
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Páginas | 104 |
ISBN | 978-85-7448-042-8 |