Áden, Arábia 


Nesta obra que já se tornou um clássico da literatura de viagem, o filósofo Paul Nizan se engaja de corpo e alma numa viagem à Arábia que na verdade é uma viagem de descobrimento interno. Tolhido numa Europa estreita, colonialista, deprimida e sobre a qual pairam os prenúncios de um novo conflito a partir das cinzas ainda fumegantes da Primeira Guerra Mundial, além de um mal-estar evidente frente aos problemas ideológicos que assolam a União Soviética e o ideário comunista de que era adepto, Nizan larga tudo, pega um navio rumo a Áden, protetorado britânico na confluência do mar Vermelho e do mar Arábico, em empreendimento de limpeza de alma que seu amigo do peito e cúmplice de todas as horas Jean-Paul Sartre não hesita em chamar de fuga, suicídio, etc., no pungente libelo à amizade que serve de prefácio a esta obra e que demonstra ao mesmo tempo uma desconfortável incompreensão diante da “última tentação, a derradeira tentativa para achar uma saída individual. A última fuga, também” de seu amigo, que não digeriu o colonialismo in loco, mas passaria mais mal ainda ao retornar às origens (as suas e as do colonialismo), para no final sucumbir sob as balas ideológicas e também muito reais de mais uma dessas guerras que o homem ocidental sabe tão bem manusear.

As páginas de Nizan que restam hoje não são tanto as da “revolta exemplar para os filhos de burgueses. Porque não tem como motivo nem a fome nem a exploração” (Sartre), embora sejam a tônica de uma época e tenham marcado praticamente todos os intelectuais europeus do entre-guerras, e sim os belos apontamentos sobre regiões que parecem estar a mil léguas da metrópole européia. Sabores, brisas, velas e mastros, fragrâncias e peles bronzeadas de tempos que o andar da História revogou. Mas também preciosas páginas sobre o domínio cultural colonial e seu corolário de situações ridículas de um homem branco que já era bem estúpido àquela época, para retomar Michael Moore. Não, Nizan não estava tão errado em seu lamento anticolonial.



          


Paul Nizan

Paul Nizan nasceu em Tours, em 1905. Estudou na École Normale Supérieure, onde se graduou em filosofia. Cansado dos ambientes literários e do mal-estar entre-guerras, deixa a Europa mas confronta-se com o colonialismo, que passa a denunciar. De volta à Europa, filia-se ao Partido Comunista Francês, do qual desliga-se algum tempo depois da assinatura do pacto germano-soviético. Foi amigo e condiscípulo de Jean-Paul Sartre. Como jornalista, dirigiu a revista Bifur e escreveu para L´Humanité e CeSoir. Escreveu Áden, Arábia (1931), LesChiens de Garde (1932), Le Matérialistes de l´antiquité (1936), e a elogiada trilogia romanesca de Nizan, Antoine Bloyé (1933), Le cheval de Troie (1934) e La Conspiration (1938), que deu a Nizan um lugar entre os três maiores romancistas (junto com Aragon e Drieu La Rochelle) do período.                


Livro
Tradutor Bernadette Lyra
Formato 14x21cm
Páginas 176
ISBN 978-85-7448-045-9

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