Livro de Yukio Mishima fala de ir ou ficar, viver ou morrer
O marinheiro que perdeu as graças do mar dá continuidade às publicações pela editora Estação Liberdade do grande escritor japonês Yukio Mishima
Gabriel
Boric, recém-eleito presidente do Chile, em sua primeira viagem internacional,
visitando a Argentina, virou notícia não só pelas questões geopolíticas que
debateu ao lado de Alberto Fernández, homólogo do país vizinho, mas também por
ter ido a uma livraria e comprado, entre outros livros inusitados para uma
pessoa em sua posição, um romance de literatura japonesa: El marino que perdió la gracia del mar, de Yukio Mishima. A edição
brasileira deste mesmo livro é publicada agora pela editora Estação Liberdade.
O
marinheiro que perdeu as graças do mar chama-se Ryuji Tsukazaki, a quem parece
estar predestinado algum tipo de glória. Ele faz parte da tripulação do Rakuyo,
navio cargueiro que o transporta ao porto de Santos, aqui no Brasil, e às
sombrias aspirações que o atormentam. Mas não só ondulante é Ryuji: ele também
aporta e é atraído pela terra firme, onde se lhe oferece uma vida muito
diferente da marítima.
Yukio
Mishima constrói uma engenhosa história com este personagem que trava diversas
relações e é apresentado através de cada uma das perspectivas de seus
interlocutores, fora a do narrador. Assim, o personagem e, por extensão, sua jornada
acabam por ser multifacetados e não se deixam definir unilateralmente, dando
aos leitores o que pensar e interpretar.
O autor
permeia ainda todo o romance com palavras como “fresta”, “orifício”, “fissura”,
“rachadura”, “vigia”, por onde se espiam os acontecimentos do livro. Se por um
lado as pequenas aberturas proporcionam que luz entre na escuridão, que se veja
a parte pelo todo, de forma misteriosa e poética, por outro podem limitar os
olhos a desconsiderarem o que não veem. No centro desse conflito, está outro
personagem, o garoto Noboru, que vive espionando por um buraco na parede e
precisará decidir que caminho tomar em seu amadurecimento.
O marinheiro que perdeu as graças do mar explora partidas e
permanências, perdas e ganhos, individualidade e abdicação desta, amor e ódio,
violência e paz, explora o convite à vida em dinâmica que é o verão e a inação,
a negatividade, a penumbra do inverno, estações que, aliás, intitulam as duas
partes em que está dividido este livro. 午後の曳航 ou Gogo No Eiko, conforme o título em
japonês, foi publicado originalmente em 1963, enquadrando-se a meio caminho da
carreira de Yukio Mishima.
Paralelamente, fica explícita a
pulsão pela morte, recorrente em Mishima, inclusive com o desenlace que
conhecemos.
Título: O marinheiro que perdeu as graças do mar
Autor: Yukio Mishima
Tradução: Jefferson José Teixeira
ISBN: 978-65-86068-25-2
Formato: 14 x 21 cm /
176 páginas
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