O SOM DA MONTANHA

A cada dia, Shingo Ogata trava novos confrontos com a memória que desvanece. Preocupado com a decadência moral de seus descendentes, divide-se entre a difícil função de chefe de família e o clamor da beleza que o traga a todo instante para paisagens que estão além de seu convívio com os homens.

Ao lado de O país das neves (Estação Liberdade, 2004) e Mil tsurus (Estação Liberdade, 2006), O som da montanha forma a chamada “trilogia dos sentimentos humanos”, citada pela Academia Sueca na ocasião da entrega do prêmio Nobel de Literatura a Kawabata. A presente obra constitui um exercício estilístico de rara felicidade: resultado da busca de vida inteira pela depuração total da arte romanesca, a simplicidade do narrar aqui se apresenta plena, suave, homogênea.

Kawabata maneja com habilidade seus personagens em meio ao delicado tecido dramático. Com a sutileza que lhe é peculiar, faz brotarem da narrativa os demônios pessoais que a rigidez da família japonesa não é capaz de conter em uma era de incertezas, abalada pela crise de identidade que sobreveio à Segunda Guerra Mundial. Shingo Ogata, representante de uma geração que se despede, luta para fazer valer sua autoridade e a sabedoria da tradição, mas é incessantemente capturado por flores, cantos de pássaros, e mais amiúde pela beleza e delicadeza da jovem nora, Kikuko. Apresentando os primeiros laivos de senilidade, Ogata já não está totalmente presente. Sua existência lírica anuvia sua vida prática.

Mais uma obra magistral do Prêmio Nobel Yasunari Kawabata: em O som da montanha dançam, de mãos dadas a uma observação arguta da moderna sociedade japonesa, reflexões sobre vida e morte (em especial sobre a possibilidade do suicídio, ao qual se entregaria o próprio autor em 1972), momentos de profundo lirismo contemplativo e a beleza suave do erotismo na velhice. Aos fundos da casa, a vista para a montanha, cujas mensagens Shingo Ogata vai aos poucos se tornando capaz de decifrar.

LEIA UM TRECHO DA OBRA    
     

                                                                                                  


YASUNARI KAWABATA

Prêmio Nobel de 1968, Yasunari Kawabata é considerado um dos representantes máximos da literatura japonesa do século XX. Nasceu em Osaka, em 1899. Após uma infância solitária e sofrida, interessou-se cedo pelos clássicos japoneses, que viriam a ser uma de suas grandes inspirações.

Kawabata estudou literatura na Universidade Imperial de Tóquio e foi um dos fundadores da Bungei Jidai, revista literária influenciada pelo movimento modernista ocidental. Acompanhado de jovens escritores, defenderia mais tarde os ideais da corrente neossensorialista (shinkankakuha), que visava uma revolução nas letras japonesas e uma nova estética literária, deixando de lado o realismo em voga no Japão em prol de uma escrita lírica, impressionista, atravessada por imagens nada convencionais.

Ao contrastar o ritmo harmônico da natureza e o turbilhão da avalanche sensorial, Kawabata forjou insólitas associações e metáforas táteis, visuais e auditivas que surpreendem diante do cotidiano, numa composição com tons levemente surreais de elementos de cultura e filosofia do Oriente, personagens acuados e cenários inóspitos.

Sua obsessão pelo mundo feminino, sexualidade humana e o tema da morte (presente em sua vida desde cedo, sob a forma da perda sucessiva de todos os seus familiares) renderam-lhe antológicas descrições de encontros sensuais, com toques de fantasia, rememoração, inefabilidade do desejo e tragédia pessoal. Desgastado por excesso de compromissos, doente e deprimido, Kawabata suicidou-se em 1972. 



Livro
Tradutor Meiko Shimon
Formato 14x21cm
Páginas 344
ISBN 978-85-744-157-9

Escreva um comentário

Você deve acessar ou cadastrar-se para comentar.