Durante décadas, Max Mannheimer reprimiu suas memórias dos campos de concentração em que fora obrigado a viver sob custódia nazista — Auschwitz, os guetos de Theresienstadt e de Varsóvia, e Dachau, aonde o enviaram em uma marcha da morte. Guardou para si todo o horror que lugares como esses causam a um ser humano, mesmo que os pesadelos do silêncio o assombrassem e a depressão o adoecesse.


Embora tenha sobrevivido, perdeu pai, mãe, dois irmãos, uma irmã e a esposa, ou seja, toda a família, exceto um terceiro irmão. Em face de traumas tão perturbadores, é compreensível que ele preferisse, portanto, não expressar suas lembranças e seus sentimentos.

Porém, após muitos anos, ao se deparar, em viagem aos Estados Unidos, com uma suástica bordada na roupa de uma pessoa; e também, em outra ocasião, ao pensar que estava próximo da morte por conta de um mal-entendido com seu médico, Mannheimer resolve abordar seu difícil passado e, logo, escrever um diário sobre o período mais aterrador de sua vida.


Nestes diários tardios a que os leitores brasileiros agora têm acesso, Mannheimer conta sobre sua juventude na antiga Tchecoslováquia até a ocupação alemã — o relato da propagação da praga nazista entre vizinhos e próximos é comovente —, seguindo com a mudança para uma parte não ocupada do país, mas onde a máquina hitlerista i alcançará também. Relata finalmente sua experiência nos campos de extermínio, com descrições da rotina estafante de trabalhos forçados e narrações de passagens insólitas, como por exemplo o pão que ele comia em uma sala de autópsia ou a felicidade de uma roupa nova após meses. Rememora os pequenos atos de bravura dos colegas de jornada, como a desafiar o destino e dar sentido ao sofrimento, ações que quase sempre redundam em tortura, fuzilamento ou forca. Nas páginas finais, a descrição da libertação traz o adendo positivo mostrando que a resistência não apenas é possível, mas necessária.


Assim como Mannheimer precisou de tempo para rever o passado tenebroso, mas depois o domou e o escreveu a seu modo, para que pudesse servir ao futuro, a história geral que está no cerne da história pessoal dele funciona como espelho, mesmo que talvez um pouco distorcido, do que os últimos tempos vêm se tornando por meio de outras guerras, opressões e injustiças; e pode-se relacionar os acontecimentos dos tempos diferentes para aprender, repensar e, nos melhor dos casos, sensibilizar-se.







SOBRE O AUTOR 




Max Mannheimer nasceu em 1920, em Nový Jičín, cidade na antiga Tchecoslováquia. Judeu, foi perseguido pelos nazistas e forçado a trabalhar para eles. Perto de completar 23 anos, enviaram-no junto a toda sua família para o gueto de Theresienstadt e logo para Auschwitz, onde só sobreviveram ele e um irmão, que seriam ainda enviados para o gueto de Varsóvia, na Polônia, e para Dachau, na Alemanha. Em 1945, poucos meses antes do fim da Segunda Guerra Mundial, Manheimmer, muito debilitado, foi libertado do domínio nazifascista.

Após a libertação, voltou a sua cidade natal, casou pela segunda vez e mudou-se para Munique. Começou a pintar sob o pseudônimo ben yakov, teve suas pinturas expostas em várias ocasiões e também trabalhou com diversas organizações judaicas. Escreveu estas memórias nos anos 1970 e as publicou em livro somente em 2000. Engajou-se no conselho da Fundação Jugendgästehaus Dachau, uma instituição para conscientizar sobre a história de violência contra os judeus, que após a morte de Mannheimer, em 2016, passou a levar seu nome: Fundação Max Mannheimer-Haus.







Livro
Tradutor Luis S. Krausz
Formato 14 x 21 cm
Páginas 128 páginas
ISBN 978-65-86068-28-3

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